O mundo dos negócios na China passou por uma verdadeira transformação nos últimos anos, refletindo não só nas grandes fortunas acumuladas como também na origem desses recursos.
Zhang Yiming, o nome por trás da gigante ByteDance, responsável pela criação do popular TikTok, atingiu a liderança no prestigiado ranking do Instituto de Pesquisa Hurun, que traz os maiores bilionários chineses em 2024. Com uma fortuna avaliada em US$ 49,3 bilhões, Yiming desbancou o antigo líder, Zhong Shanshan, dono da Nongfu Spring, que ocupou a primeira posição por três anos consecutivos. A virada indica um claro domínio do setor de tecnologia, especialmente de plataformas com impacto global, marcando uma nova era para os bilionários do país.
Este ranking, atualizado em agosto deste ano, revela tendências intrigantes sobre as maiores fortunas da China e aponta uma queda significativa no número de ultra-ricos devido a um cenário econômico desafiador e um mercado de ações em retração. Segundo o levantamento, o número de chineses com patrimônios acima de US$ 700 milhões diminuiu em 12%, totalizando 1.094 pessoas com uma riqueza conjunta de US$ 3 trilhões – 10% a menos que em 2023.
Além dos números, o relatório destaca uma geração de empreendedores mais internacionalizada e diversa, composta majoritariamente por líderes de setores emergentes como tecnologia, novas energias e e-commerce, afastando o domínio dos tradicionais incorporadores imobiliários. Confira os principais nomes que encabeçam esse ranking e descubra o perfil da nova geração de multimilionários chineses.
Zhang Yiming lidera com o TikTok e ByteDance
A ascensão de Zhang Yiming à primeira posição do ranking de mais ricos na China é um reflexo direto do impacto global do TikTok e do impressionante crescimento da ByteDance. Com apenas 41 anos, Yiming revolucionou o setor de redes sociais com uma plataforma de vídeos curtos que conquistou milhões de usuários ao redor do mundo, especialmente entre as gerações mais jovens.
Esse sucesso não veio sem desafios, principalmente devido a questões de privacidade e disputas com o governo dos Estados Unidos, mas ainda assim o TikTok gerou receitas recordes de US$ 110 bilhões para a ByteDance no último ano.
O que torna Yiming ainda mais notável é o fato de ser o primeiro líder da lista nascido na década de 1980, uma novidade no histórico de rankings dos bilionários chineses. Ao longo dos anos, ele se estabeleceu como um dos principais expoentes da geração de empreendedores chineses que busca expandir negócios para além das fronteiras do país.
O declínio de Zhong Shanshan
Zhong Shanshan, que ocupou o topo do ranking por três anos, agora caiu para o segundo lugar com uma fortuna de US$ 47,9 bilhões. Ele é o proprietário da Nongfu Spring, uma das maiores empresas de água engarrafada da China. A fortuna de Shanshan sofreu uma queda de 24% em relação ao ano anterior, um reflexo das dificuldades que sua empresa enfrentou no mercado, incluindo uma queda de 40% nas ações da Nongfu Spring. Esse cenário foi agravado por uma demanda mais volátil e um aumento na concorrência, fatores que impactaram diretamente o seu patrimônio.
Tecnologia domina o ranking
Além de Yiming, outros gigantes da tecnologia ocupam posições de destaque. Pony Ma Huateng, o criador da Tencent, é outro exemplo, com uma fortuna de US$ 44,4 bilhões. A Tencent, uma das maiores empresas de comunicação e mídia do mundo, é responsável pelo desenvolvimento de jogos e outros produtos digitais que revolucionaram o mercado e atraíram um público global.
A plataforma de e-commerce Pinduoduo também figura no topo com seu fundador, Colin Huang Zheng, que ocupa a quarta posição. Zheng, com um patrimônio de US$ 34,5 bilhões, tem no aplicativo de compras Temu seu grande carro-chefe, uma ferramenta popular de compras coletivas que conquistou consumidores pelo preço competitivo e pela conveniência.
O ranking também destaca outros nomes importantes, como William Ding Lei, que acumulou uma fortuna de US$ 28,2 bilhões com a NetEase, e Robin Zeng Yuqun, conhecido como o “rei das baterias”, dono da CATL e com US$ 28,2 bilhões. Esses empreendedores são símbolos do dinamismo do setor tecnológico e da inovação na China, onde as novas gerações de empresários buscam explorar setores emergentes, como o desenvolvimento de baterias para veículos elétricos e o comércio digital.
Geração Y e Z entre os bilionários chineses
Outra característica importante do ranking deste ano é o destaque para a Geração Y e Z, com a presença de jovens empreendedores que desafiam os padrões tradicionais. Atualmente, 30 integrantes da lista têm 34 anos ou menos, mostrando a ascensão de novos bilionários que têm na tecnologia sua principal fonte de riqueza. Entre eles, destaca-se Wang Shuo, de Seattle, com um patrimônio de US$ 990 milhões, proveniente de uma plataforma de recursos humanos.
Esses jovens são expoentes de uma geração mais conectada globalmente, o que os diferencia dos empreendedores das gerações anteriores. Suas empresas frequentemente buscam a internacionalização desde o início, explorando mercados no Ocidente e usando a internet e a tecnologia para romper fronteiras. Essa tendência, apontada pelo presidente da Hurun, Rupert Hoogewerf, mostra uma geração que já nasceu em uma China mais aberta ao mundo, explorando as potencialidades do mercado global com uma abordagem inovadora e moderna.
Mulheres bilionárias também ganham espaço
Embora ainda sejam minoria, as mulheres representam 23,5% do total dos ultra-ricos na China, com Kelly Zong Fuli, da Hangzhou Wahaha Group Co., liderando entre as bilionárias. Aos 42 anos, Zong preside uma das maiores fabricantes de bebidas do país, fundada por seu pai, e sua presença no topo das empresárias mais ricas reflete a crescente participação feminina nos negócios de grande escala.
Além dela, outras empreendedoras chinesas começam a ganhar destaque, principalmente nos setores de tecnologia e bens de consumo, que historicamente eram dominados por homens. A presença de mulheres neste ranking reforça a importância da diversidade e da inclusão no mercado de trabalho chinês, onde cada vez mais mulheres alcançam posições de liderança em empresas de grande porte.
Mudanças no perfil dos bilionários chineses
O estudo do Instituto de Pesquisa Hurun revela que o perfil dos ultra-ricos na China mudou drasticamente ao longo dos anos. A lista de bilionários, antes dominada por incorporadores imobiliários, agora reflete a ascensão de setores como tecnologia, energia renovável e e-commerce. As fortunas da China não estão mais ligadas apenas a propriedades, mas à inovação, refletindo o crescimento de uma economia mais voltada para o futuro.
Além disso, metade dos bilionários de hoje não estava na lista há uma década, o que reforça o dinamismo do mercado chinês e a rápida ascensão de novas fortunas. Este dado também revela como a economia e o perfil dos negócios no país estão em constante mutação, adaptando-se às demandas e tendências globais.
A trajetória de Zhang Yiming e de outros bilionários chineses exemplifica o crescimento de uma China moderna, tecnológica e internacionalizada. Com fortunas que surgiram em setores disruptivos e inovadores, os bilionários atuais refletem um país que se reinventou e se posicionou no cenário global. O ranking de 2024 mostra que os negócios chineses não só cresceram, mas expandiram suas influências para além das fronteiras, promovendo uma nova geração de líderes mais conectados e dinâmicos.
Esses ultra-ricos não apenas simbolizam a ascensão econômica da China, mas também uma transformação social que está mudando o rosto dos negócios no país. Com um mercado desafiador, essas fortunas são uma amostra de como a China continua a avançar e se moldar ao futuro, abrindo espaço para novas fortunas que irão marcar as próximas décadas.