A taxa básica de juros do Brasil permanece em 15% ao ano desde junho de 2025, o patamar mais elevado das últimas duas décadas. A decisão mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), ao manter a Selic pela quarta vez consecutiva, reforçou um cenário que, à primeira vista, parece estático.
De acordo com o canal O Primo Rico, em vídeo do influenciador Thiago Nigro, por trás dessa aparente estabilidade, indicadores econômicos e expectativas do mercado financeiro apontam para o início de um ciclo de cortes nos próximos meses, com potencial de transformar profundamente o ambiente de investimentos no país.
O primeiro sinal relevante vem da inflação. O principal objetivo do Banco Central é conduzir o IPCA à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, atualmente em 3%, com margem de tolerância de até 4,5%. Após meses de pressão, os índices inflacionários começaram a desacelerar, abrindo espaço para uma política monetária menos restritiva. As projeções do Boletim Focus indicam inflação de 4,2% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028, mostrando convergência gradual para o centro da meta. Esse movimento reduz a necessidade de juros tão elevados e cria as condições técnicas para cortes na Selic.
O segundo indicador vem do próprio mercado financeiro. Contratos de opções atrelados às decisões do Copom funcionam como uma espécie de termômetro das apostas dos investidores. Para a reunião de janeiro, o mercado já atribui probabilidades significativas a cortes de 0,25 ou 0,5 ponto percentual. Para março, a chance de manutenção cai drasticamente, enquanto aumentam as apostas em reduções mais consistentes. Mesmo reconhecendo que o cenário pode mudar, essas expectativas revelam que o mercado já se posiciona para um novo ciclo de juros.
O contexto internacional reforça esse diagnóstico. Enquanto países como Estados Unidos, Chile, México, Peru e Colômbia já iniciaram processos de redução de suas taxas básicas, o Brasil permanece como uma exceção. O resultado é um dos maiores juros reais do mundo, atrás apenas da Turquia. Essa discrepância amplia pressões econômicas internas, desestimula o crédito e torna cada vez mais difícil sustentar juros tão elevados por um período prolongado sem impactos relevantes sobre o crescimento.
O quarto sinal está na atividade econômica. Indicadores do próprio Banco Central mostram que o ritmo da economia brasileira vem perdendo força de forma contínua. A variação interanual do índice de atividade aponta para crescimento próximo de zero, com risco real de retração. Situações semelhantes, no passado, ocorreram apenas em momentos de crise profunda, como em 2008, no biênio 2015-2016 e durante a pandemia. Em cenários assim, juros elevados tendem a agravar a desaceleração, o que reforça a necessidade de estímulos monetários.
Segundo Thiago, diante desse conjunto de fatores, a expectativa de um ciclo de cortes da Selic nos próximos 90 dias ganha consistência. A grande questão, então, não é apenas quando os juros vão cair, mas como esse movimento pode afetar o patrimônio dos investidores. A experiência histórica mostra que períodos de redução da taxa básica costumam alterar o desempenho relativo dos ativos. Simulações com dados desde 2012 indicam que, durante ciclos de queda da Selic, fundos imobiliários, ações focadas em dividendos e títulos públicos atrelados à inflação tendem a apresentar resultados superiores aos investimentos pós-fixados atrelados ao CDI.
Isso não significa que o passado vá se repetir de forma idêntica, mas os ciclos costumam “rimar”. Com juros em queda, aplicações que hoje parecem pouco atrativas tendem a se valorizar rapidamente, enquanto a renda fixa tradicional perde parte do brilho. O investidor que se posiciona antes do início do ciclo, de forma gradual e diversificada, costuma capturar melhor esse movimento do que aquele que reage apenas quando a mudança já está consolidada.
O cenário que se desenha para os próximos meses aponta para uma transição importante. O CDI dificilmente continuará pagando os mesmos retornos atuais, enquanto ativos mais sensíveis aos juros tendem a ganhar espaço nas carteiras. Mais do que promessas de enriquecimento rápido, o momento exige leitura atenta do contexto econômico, disciplina e estratégia. Os próximos 90 dias não garantem ganhos automáticos, mas podem marcar o início de um novo ciclo para quem entende o funcionamento do mercado e se antecipa às mudanças.