Ações Cosan (CSAN3): Resultados do 1T25 revelam nova estratégia financeira

A Cosan (CSAN3), uma das maiores holdings brasileiras atuantes nos setores de energia, logística e agronegócio, divulgou os resultados do primeiro trimestre de 2025 com um recado claro ao mercado: a prioridade agora é eficiência financeira e disciplina de capital. Em um período marcado por desafios operacionais, como o incêndio na unidade da Moove e a performance abaixo do esperado da Raízen, o foco estratégico voltou-se para reorganizar dívidas, enxugar ativos e preparar a companhia para um ciclo de crescimento sustentável a médio prazo.

Os números, embora pressionados por fatores pontuais, contam uma história de transição. O prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão no trimestre contrasta com medidas arrojadas de gestão de passivos, redução do endividamento corporativo e mudanças profundas na estrutura de capital. A venda da participação na Vale, a emissão de novas debêntures e o resgate de ações preferenciais revelam uma Cosan que não teme tomar decisões difíceis para preservar a solidez do grupo a longo prazo. Este artigo analisa, com profundidade, os principais números do 1T25 da Cosan, seus impactos estratégicos e o que esperar dos próximos trimestres.


Estratégia financeira em foco: a reorganização de capital da Cosan

O maior destaque do 1º trimestre de 2025 foi, sem dúvida, a mudança radical na estrutura de capital da Cosan. A empresa alienou sua participação de 4,1% na mineradora Vale, uma operação que injetou R$ 8,9 bilhões no caixa da holding. Esse movimento, longe de ser apenas uma operação de liquidez, serviu como alicerce para uma série de ações focadas na redução do endividamento corporativo, que caiu de R$ 32 bilhões para R$ 23,5 bilhões em apenas três meses.

A companhia também refinanciou obrigações: emitiu novas debêntures, recomprou papéis antigos e resgatou cerca de R$ 2,2 bilhões em ações preferenciais da Cosan Nove (ligada à Raízen). Como resultado, a Cosan não possui mais vencimentos relevantes de dívida até 2028 e reduziu o custo médio da dívida de CDI +1,4% para CDI +0,9%.

Esse redesenho do passivo melhora significativamente a alavancagem e reforça o compromisso com um crescimento sustentável. A relação Dívida Líquida / EBITDA permanece sob controle, e a cobertura de juros subiu para 1,2x, mesmo em um cenário de aumento da taxa básica de juros e pressão nos resultados operacionais.


Moove: incêndio e retração nos resultados

O desempenho da Moove, braço de lubrificantes da holding, foi duramente impactado por um incêndio ocorrido na unidade fabril do Rio de Janeiro, no início de fevereiro. Com isso, os volumes de vendas recuaram 8% na comparação trimestral e 10% em relação ao ano anterior. O reflexo foi imediato: a receita líquida caiu 10% t/t e 4% a/a.

Mais preocupante, porém, foi a queda no EBITDA ajustado, que recuou para R$ 232 milhões — retração de 22% t/t e 32% a/a. A margem EBITDA caiu 1,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e 4,1 pontos em relação ao mesmo período de 2024.

A Cosan já vinha alertando o mercado quanto aos impactos dessa ocorrência não recorrente. A expectativa é de que a recuperação da capacidade produtiva ocorra ao longo do segundo semestre de 2025, com normalização gradual dos volumes e estabilização das margens a partir do 4T25.


Radar: estabilidade operacional e gestão prudente de ativos

O desempenho da Radar, empresa especializada em gestão de ativos agrícolas e propriedades rurais, foi considerado neutro no trimestre. O EBITDA de R$ 141 milhões representou crescimento anual de 3%, mas queda expressiva de 91% frente ao trimestre anterior — efeito contábil decorrente da reavaliação de terras realizada no 4T24.

O lucro líquido acompanhou a mesma tendência: alta de 6% a/a, mas queda de 91% t/t. A empresa mantém um portfólio avaliado em R$ 17 bilhões, sendo R$ 5,3 bilhões atribuíveis diretamente à Cosan. Destaque para a venda de uma fazenda acima do valor de avaliação, demonstrando a resiliência e qualidade dos ativos sob gestão.

Mesmo sem surpresas, o resultado reforça o papel da Radar como um ativo estável e gerador de caixa dentro do ecossistema Cosan — especialmente em momentos de maior volatilidade dos demais negócios.


Compass: previsibilidade e geração sólida de caixa

Os resultados da Compass, divulgados no início de maio, vieram em linha com as expectativas da XP. A empresa, focada em distribuição e comercialização de gás natural, reportou EBITDA ajustado de R$ 1,3 bilhão, impulsionado por ganhos pontuais na arbitragem de GNL. Desconsiderando esse fator não recorrente, o EBITDA normalizado foi de R$ 1,1 bilhão — ainda assim, uma alta de 20% a/a.

Mesmo com o 1T25 sendo sazonalmente mais fraco, a empresa manteve guidance para o ano entre R$ 4,7 bilhões e R$ 5,1 bilhões de EBITDA, o que reforça a capacidade de geração de caixa da operação. Além disso, a Compass distribuiu R$ 1,5 bilhão aos acionistas via redução de capital, mantendo sua alavancagem em 2,0x Dívida Líquida / EBITDA.

A previsibilidade da Compass tem servido como um pilar de estabilidade dentro do conglomerado Cosan, especialmente em um momento de transição estrutural mais ampla no grupo.


Rumo: eficiência operacional como diferencial competitivo

A Rumo, maior operadora ferroviária da América Latina, apresentou um trimestre considerado neutro. O EBITDA caiu 3% a/a, mas ficou 3% acima das estimativas da XP. O yield avançou 2%, embora abaixo das projeções. Já os custos operacionais foram ajustados com precisão, neutralizando parcialmente o impacto das tarifas menores.

O capex elevado de R$ 1,8 bilhão, embora elevado, está dentro do guidance anual (R$ 5,8 a R$ 6,5 bilhões). Isso indica antecipação de investimentos, com potencial para impulsionar resultados nos próximos trimestres.

A Rumo segue como um ativo estratégico de longo prazo no portfólio da Cosan, com potencial de geração robusta de EBITDA, impulsionado pelo agronegócio e logística integrada.


Raízen: processo de turnaround avança, mas resultados seguem pressionados

Por fim, a Raízen reportou resultados abaixo do esperado. A receita líquida de R$ 57,7 bilhões foi considerada sólida (+8% a/a), mas o EBITDA ajustado de R$ 1,7 bilhão ficou 53% abaixo do mesmo trimestre de 2024 e 38% inferior à estimativa da XP.

A companhia passa por um profundo processo de reestruturação — com revisão de portfólio, mudanças na gestão e foco em rentabilidade —, mas os efeitos ainda não se refletem totalmente nos resultados financeiros. A Cosan reafirma sua confiança na tese de recuperação da Raízen, mas o mercado segue cauteloso.


Conclusão

O 1T25 da Cosan não trouxe euforia, mas entregou sinais importantes de maturidade estratégica. Ao abrir mão da participação na Vale, reestruturar sua dívida e recomprar títulos, a empresa promoveu uma verdadeira cirurgia financeira, com foco em longevidade, eficiência e disciplina de capital. O movimento é especialmente relevante num cenário em que as operações — Moove, Raízen, Radar — enfrentaram choques pontuais ou ciclos de reestruturação.

Ainda que os resultados operacionais tenham sido pressionados, o grupo sinaliza compromisso com a criação de valor no longo prazo, enxugando a estrutura e preparando-se para novos ciclos. A Cosan que emerge do 1T25 é uma holding mais leve, com menor exposição a passivos e mais preparada para suportar eventuais oscilações de mercado. O foco agora está no que virá adiante — e esse horizonte começa a parecer mais promissor.

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