
A decisão entre comprar um carro zero quilômetro ou optar por um seminovo voltou ao centro das discussões entre consumidores brasileiros. A recente redução nos preços dos veículos novos ampliou o leque de escolhas e recolocou em pauta uma dúvida recorrente no mercado automotivo: vale mais a pena investir em um modelo novo, porém mais básico, ou escolher um seminovo mais completo, com mais itens de conforto, tecnologia e segurança.
O cenário atual indica que a resposta depende menos do desejo pelo carro novo e mais de uma análise cuidadosa de custo-benefício.
Um levantamento realizado pela consultoria MegaDealer em parceria com a plataforma Auto Avaliar aponta uma mudança relevante no comportamento do mercado. Entre janeiro e agosto, o desconto médio aplicado aos carros zero quilômetro chegou a 7,3%, mantendo-se em torno de 7% em outubro. Esse movimento devolveu competitividade ao segmento de novos, após um período de restrições causadas por preços elevados e menor poder de compra do consumidor. Segundo o Estudo de Preços de Veículos Zero Km, o valor médio real de venda caiu para R$ 157.785, abaixo dos R$ 169.580 sugeridos pelas montadoras.
O impacto é mais evidente entre os hatches compactos, onde os descontos chegam a 7,5%. Esses modelos, tradicionalmente procurados por quem compra o primeiro carro zero, tornaram-se mais acessíveis. De acordo com a MegaDealer, o giro médio de estoque nas concessionárias está em 38 dias, indicando maior dinamismo nas vendas. Para o country manager da empresa, Fábio Braga, a redução nos preços dos modelos de entrada tornou o carro novo mais competitivo frente aos usados.
Apesar disso, o mercado de seminovos segue aquecido e, em muitos casos, continua oferecendo melhor relação entre preço e conteúdo. Dados do estudo Performance de Veículos Usados mostram que os modelos com um a três anos de uso permanecem entre os mais procurados, por reunirem tecnologia recente, baixa quilometragem e valores mais atrativos. Em outubro, o preço médio dos usados ficou em R$ 89.654, com giro semelhante ao dos novos, também em torno de 38 dias.
Segundo o CEO da Auto Avaliar, J. R. Caporal, a diferença de preço é um fator decisivo. Um seminovo equivalente pode custar de 20% a 30% menos que um zero quilômetro, além de já ter superado a desvalorização mais acentuada que ocorre nos primeiros meses de uso. Ele ressalta ainda que veículos usados costumam ter custos menores com IPVA e seguro, o que reduz o gasto total ao longo do ano.
O carro novo, mesmo em versões mais básicas, apresenta vantagens claras para parte dos consumidores. Entre os principais atrativos estão a garantia de fábrica, a menor necessidade de manutenção nos primeiros anos, a possibilidade de personalização gradual e, em geral, maior facilidade na obtenção de financiamento. Esses fatores pesam especialmente para quem busca previsibilidade de gastos e tranquilidade no pós-compra.
Por outro lado, o seminovo completo entrega mais equipamentos por um valor inferior, o que inclui itens de segurança, conforto e conectividade que, no zero quilômetro, costumam estar disponíveis apenas em versões mais caras. A contrapartida é a necessidade de maior atenção à procedência do veículo e aos custos de manutenção, que podem ser mais elevados e menos previsíveis, dependendo do histórico de uso.
Especialistas destacam que o consumidor brasileiro tem se mostrado cada vez mais racional na escolha. Muitos já não veem o carro zero como prioridade absoluta, desde que encontrem um seminovo em bom estado e com preço justo. Nesse contexto, a avaliação cuidadosa passa a ser determinante. Para quem considera um usado, é fundamental verificar o histórico do veículo, a documentação, a existência de recalls pendentes, além de realizar inspeção mecânica e test drive para avaliar ruídos, câmbio, suspensão e sistema de freios.
A escolha também deve levar em conta a aceitação do modelo no mercado e sua tendência de desvalorização futura, fatores que influenciam diretamente a revenda. Não há, portanto, uma resposta única para a decisão entre novo e seminovo. O atual cenário automotivo oferece mais alternativas e exige do comprador uma análise criteriosa entre preço, tecnologia, custos de manutenção e valor de revenda.
Para os analistas do setor, a retomada da competitividade do carro zero não elimina a força dos seminovos, mas equilibra o jogo e favorece o consumidor. A decisão final tende a ser menos emocional e mais baseada na conta que cabe no orçamento, tanto no momento da compra quanto ao longo do tempo de uso do veículo.